domingo, 25 de novembro de 2007

Nosfertus


Nosferatu, o modelo do vampiro de aparência doentia.



Na Rússia, em Novomasvoviski, um jovem esfaqueou um velho. Quando a polícia o prendeu, ele estava lambendo o sangue que brotava da ferida de sua vítima. O inglês Mathew Hardman, de 17 anos também esfaqueou o vizinho e bebeu seu sangue; queria tornar-se imortal. O casal alemão Daniel e Manuela Rudha também matou um homem para beber sangue. Daniel tem os incisivos afiados exatamente para perfurar com facilidade as veias da "presa"; sua mulher usa prótese dentária: caninos feitos especialmente com esse mesmo fim.

O comportamento é vampiresco mas os protagonistas dos crimes citados não se encaixam na tipologia clássica dos vampiros; são doentes. Sofrem de uma psicopatia excêntrica. Sacrificam suas vítímas e consomem o sangue como parte de uma espécie de ritual; um ritual que criam em suas mentes e que tem muito de associação de idéias fantasiosas ligadas às histórias populares sobre os vampiros. Isso é diferente de ser metabolicamente, de fato, semelhante ao vampiro clássico.

O primeiro "vampiro histórico" surgiu há cerca de mil anos atrás. Na Idade Média, "existiram" hordas de vampiros. Duzias deles foram queimados na fogueira, em praça pública, junto com as bruxas no tempo da Inquisição. O Santo Ofício possui numerosos registros que se referem aos vampiros. Ali, são descritos como criaturas que não suportam a luz do dia. Tornam-se ativos à noite, quando deixam suas sepulturas para atacar as pessoas que fornecerão o fluido vital de que necessitam: sangue.

O médico britânico Lee Eallis, primeiro pesquisador a estudar o vampirismo do ponto de vista científico, formulou a teoria do vampiro patológico estabelecendo a relação entre o apetite por sangue e uma doença chamada porfiria. A profiria é um distúrbio do metabolismo; o organismo pára de produzir hemoglobina, o pigmento que dá cor vermelha ao sangue. Em 1963, Eallis publicou sua monografia Porphyria and Etymology of Vampires, na Royal Society of Medicine. Seu trabalho foi ignorado pelos membros da Sociedade. Em meados dos anos de 1980, o professor Wayne Tikkanen, um colega de Eallis, retomou o tema afirmando que todos os mitos europeus sobre os vampiros tem origem orgãnica: a porfiria.

Os cientistas acreditam que a porfiria é uma doença genética que afeta os pigmentos subcutâneos: os porphirin, responsáveis pelo vermelho da hemoglobina. O distúrbio faz com que esses pigmentos se acumulem embaixo da pele tornando o portador da doença extremamente fotossensível. Nessas condições, os porphirins metabolizam o oxigênio de modo noscivo, produzindo grande quantidade de radicais [de oxigênio] livres (relacionados ao envelhecimento).

O rosto do paciente, aos poucos, fica deformado. As extremidades se aguçam, os ossos parecem querer saltar através dos músculos. A gengiva escurece e se retrai dando a impressão de mandíbula proeminente. Os dentes incisivos se destacam. A exposição ao sol desencadeia problemas imunológicos: aparecem inflamações. O doente de porfiria evita a luz do dia; passa a sair à noite. Em muitos casos, problemas mentais completam o quadro.

Transtornado pela carência de hemoglobina, padecendo dores terríveis, o "porfírico" pode se tornar agressivo e atacar outra pessoa para obter sangue, aliviando temporariamento o sofrimento. Os cientistas acham que os vampiros medievais eram portadores da doença transformados em criminosos por um instinto de autopreservação.

A porfiria é uma das doenças mais misteriosas de todos os tempos. Recentemente, o avanço da medicina genética acena com uma promessa de cura que ainda não foi descoberta. Enquanto isso, as transfusões de sangue são usadas como forma de tratamento paliativo. Felizmente, a porfiria é um mal raro: em todo o mundo existe uma centena de casos registrados.

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